31.8.09

Brindemos aos nossos defeitos

Falemos sobre os nossos defeitos! Mesmo porque, nada é mais justo do que falar sobre aquilo que todos preferem esquecer, nossa amnésia seletiva, nossa cegueira tão convencional. Como seria bom se a gente conhece-se primeiro os defeitos e só depois a beleza. Seria ótimo se primeiramente fosse apresentada aquela gaveta lá no fundo, escondida, com nossas coisas feias e erradas guardadas. Talvez assim, quando falássemos "quero você", seria um quero você mesmo, mesmo assim, seria como um quero você ainda assim, dessa forma que eu te quero. Seria ótimo ouvir, seria ótimo ser verdadeiro assim. Sem surpresas futuras, sem mentiras, sem decepções.
Mas não, primeiro nós abrimos nossas plumas mágicas e coloridas de pavão, dançamos placidamente, expomos nossas ideias, nossas virtudes, nossas belezas, nossos inúmeros lustres. Esbanjamos olhares e bocas e mãos e gestos. Nossa voz sai suave e bordam as palavras de creme e limão. Mas depois as plumas se recolhem, a imponência se encolhe e ficamos frágeis e pequenos. E eu me pergunto: Não seria melhor aceitar o pouco desejável antes, as fraquezas, o questionável e só depois nos surpreendêssemos com lindas plumas?
Eu diria: "Venha cá, senti-se aí, preciso lhe falar." Primeiro uma dose de whisky, não para embedar, ele precisaria estar lúcido para ouvir o que digo, mas só para relaxar. E eu diria: "aqui está a minha gaveta, olhe bem para dentro dela".
Eu sou extremamente preguiçosa, só funciono no tombo, sob pressão. Demoro a acordar, por isso sempre coloco o despertador uns 15 minutos antes a hora que devo levantar. E ainda passo as primeiras horas do dia como se ainda não tivesse acordada. Na TPM fico num mau humor horrível e isso quando eu não choro e acho que o mundo foi criado para me esmagar. Como o que tiver na mesa, se for pouco, como pouco, se for muito pode ter certeza que como tudo. E muitas vezes me dou mal por causa disso. Sofro de asma, rinite, sinusite e mais um monte de afecções respiratórias alérgicas. Ou seja, aquele acampamento que você marcou há meses e estava super empolgado vai acabar em um hospital caso seja no inverno, ou aquela casa de praia que você juntou todo salário do mês para pagar vai acabar no mesmo lugar caso ela esteja fechada por muito tempo.
Se eu ficar em casa o dia inteiro, eu vou estar de pijama, os mais infantis e cheios de babadinhos possíveis e caso você quiser falar alguma coisa sobre, poderá ser atacado por algum objeto não identificado. Sou super dengosa, e a depender dos hormônios vou chorar algumas vezes e não me pergunte, nem eu sei o porque e se sei é por algum motivo não justificado. Sou ou tento ser o máximo recíproca, assim, se eu achar que você não está me dando bola hoje vou te privar da minha presença durante uma semana, para ver se você me dá mais valor. Não leio manuais de instrução, não assisto novela, odeio jogo de futebol. Sou viciada em café, mas já estou parando. Tenho tiques nervosos em canto de boca e as vezes sou tão banal quanto a Amelie.
Tenho pesadelos horríveis a noite e com certeza me agarrarei em você até você sentir falta de ar ou sentir que seu corpo vai necrosar. E caso eu tenha assistido algum filme de terror, qualquer que seja, desde bonequinhos de macacão azul, ou menininhas feias descendo escadas fará com que eu necessite de sua companhia para qualquer cômodo da casa durante a noite. Vivo tropeçando pela casa e adoro ouvir música alta, adoro cantar e dançar e isso, pode crer, é um defeito vindo de mim. Amo ler e não me atrapalhe se não quiser levar umas grosseirias para casa. Meu guarda roupa é hiper bagunçado e isso se espalha pela minha cama, cadeira, escrivaninha e todo quarto. Esqueço compromissos, esqueço a louça na pia, esqueço de limpar a areia do gato. Odeio salto e maquiagem, gosto de coisas fáceis de tirar (isso faz mais parte da preguiça do que qualquer outra coisa).
Morro de frio, nasci com frio, sou teimosa, tenho joelhos tortos e doloridos. Vou dizer eu te amo, todos os dias, muitas vezes ao dia. Vou planejar a vida com você, mesmo que essa vida nem exista. E vou morrer de tédio as vezes e nem vou te ligar quando isso acontecer, mas passa.
E se você pensa que acabou, lei do engano. Tem muito mais, muito mais. Talvez seja por isso que as pessoas prefiram mostrar logo suas plumas...muito mais fácil e bonito.
Mas... que nada, quem disse que a vida é fácil. Quero me apaixonar por gavetas escondidas.
Quero brindar pelos meus defeitos, mesmo porque minhas qualidades são poucos que dão algum valor. E se for para me querer, então que me queira ainda assim.

29.8.09

Outra dose

Hoje eu acordei com um gosto estranho na boca
Estranho mesmo seria se eu não tivesse acordado assim...
Depois de tudo que foi dito no dia anterior
As palavras tem gostos distintos e algumas teimam a não sair da boca
O café preto e quente que tento me desvencilhar faz tempo, apareceu na minha frente... logo hoje!
E eu, meio que aflita com o tal gosto impregnado em meus lábios, o bebi aos goles... lentos
Nem assim adiantou... quem sabe uma outra dose

A verdade é que devo ser de um outro tempo. Talvez tenha ocorrido alguma falha durante a minha viagem de encarnação, com certeza o meu voo atrasou. Não me encaixo agora!
Vivo, sim eu vivo e bem. Um outro dia o zelador do prédio onde moro me perguntou: Quem cuida de você?; e eu meio que estranhando a pergunta, respondi: Eu cuido de mim!. E ele me respondeu que eu deveria ter chamado ele para me ajudar numa briguinha de vizinhas que rolou até dedo roxo, e ele ainda completou "para que você acha que estou aqui?". E eu fiquei a pensar "não é que ele tem razão", "porque eu não o chamei?", o fato é que essa ideia nem me passou pela cabeça. Estranho o costume da auto-suficiência, logo eu, logo eu que não sou desse tempo. Talvez se eu tivesse chamado o tal do "zela-dor" haveria menos dedos pressionados em portas de elevadores.
Engraçado mesmo eu não chamar, logo eu que desejo tanto alguém que zele por mim. Sim, não me chamem de careta, já falei não sou deste tempo, eu acredito em gentilezas e carinhos sem segundas intenções. Acredito no amor, mesmo depois de tantas mentiras. Acredito na sinceridade, na cumplicidade, mesmo depois de tantas ilusões. Quero alguém para envelhecer comigo... mesmo depois de tantos já terem passado por aqui... (risinho)
As vezes fico me perguntando se realmente existe o meu tempo... muitas vezes acho que não. Mas tenho certeza que o agora, com certeza, não é o meu tempo, agora tudo ou é mentira ou não é...simples assim. E então, a gente tenta viver com isso e bem, mesmo porque, isso é uma necessidade, é preciso viver bem se não ... não vale. Daí criamos a tal da carapaça e viramos auto-suficientes... como se isso fosse completamente bom. E passamos para nossa lista de prioridades que não há nada além de nós mesmos... e começamos fingir que está tudo bem enquanto estamos gritando por dentro... tão plácidos quanto manequins, tão frios quanto.
Pior que estamos tão acostumados a este grito que acabamos por realizar uma inibição neurológica, a dor persiste mas não a ouvimos mas e dai não chamamos mas o zelador. E não é para isso que ele existe, parar zelar a dor? É incrível nossa capacidade de adaptação ao que é ruim. (risos soltos)
Fico a me perguntar "onde está... as gentilezas de outrora?", "onde foram parar aquelas verdades tão pessoais que as vezes nos pegávamos falando, como se fosse um prolongamento das batidas do coração?". Onde está aquele namoro de dicionário*? É... se não deu certo com ninguém que dizia me querer para sempre, quem sabe então, dá certo com quem diz viver bem sem mim.
Talvez esteja precisando de uma outra dose de café!
____
* Namoro de dicionário = cortejar, cativar, seduzir, atrair, cobiçar, desejar ardentemente, empregar todos os esforços para obter; (gir.) ficar; int. andar em galanteios; p. torna-se enamorado, ficar encantado, possuir-se de amor, apaixonar-se.

21.8.09

Simples assim

Acordei, apenas isto. Pensei em dormir de novo, quem dera ser feita de sonhos como dizem que somos, mas não... lá fora tudo me chamava, os roncos dos carros, o calor do asfalto, o compromisso. Tive que ir, simplesmente. Voltei tarde, como quase sempre. Quase mesmo!
Acordei com medo do meu ódio civilizado. Descobri que isso é essencialmente rancor. Segui a manhã desconfiando dos que resolvem tudo com uma boa conversa, serenos, compassivos, com a calma de um obtuário distante. E alguém um dia disse que somos feitos da mesma matéria dos sonhos. Risos!
Sim, resolvi alguns pontos. Uma vida cheia pede uma agenda, assim como um coração apertado pede soluções. Assim, vomitei na agenda soluções para o próximo dia, ano, século, milénio.
Primeiramente devo me convencer que preciso trabalhar para viver e não viver para trabalhar. Devo cair na real e comer só o suficiente. E tirar certos vícios, o café, os lixos... mentais. Sorrir em abundância. Entender que nunca mais vou fazer alguém terminar o namoro por mim, basta. E parar de ser enganada tão facilmente. Nem mentir, nem ser nada menos ou nada mais que eu, simplesmente. Silenciar, ouvir, cantar, sorrir (tudo mais). Descansar! Abandonar sentimentos antigos e pesados, abrir espaços para sentimentos novos e leves, mesmo que sejam breves. Amar!
Como é bom amar!
Nossa! Muitas vezes apetece ter uma gaveta onde guardar pessoas especiais, que nos tratam com delicadeza, que suavizam nossos azedumes, nossas emoções levianas ou descontroladas. Na verdade, apetece sempre. Muitos chamam isso de egoísmo. Dane-se!
Melhor mesmo é tomar banho de chuva... pra relaxar!
*
Sam

17.8.09

Para meu bem


Sonhando…
(Florbela Espanca)

É noite pura e linda. Abro a minha janela
E olho suspirando o infinito céu,
Fico a sonhar de leve em muita coisa bela
Fico a pensar em ti e neste amor que é teu!
D’olhos fechados sonho. A noite é uma elegia
*
Cantando brandamente um sonho todo d’alma
E enquanto a lua branca o linho bom desfia
Eu sinto almas passar na noite linda e calma.
*
Lá vem a tua agora… Numa carreira louca
Tão perto que passou, tão perto à minha boca
Nessa carreira doida, estranha e caprichosa
*
Que a minh’alma cativa estremece, esvoaça
Para seguir a tua, como a folha de rosa
Segue a brisa que a beija… e a tua alma passa!…
***