4.1.10

Pé de gente

Assim que a porta bateu em minhas costas começou a chover dentro de mim. Sensação gostosa de ser molhada por dentro e uma leve brisa passou provocando arrepios... de dentro, do centro... pra fora, pra pele e da pele pros pêlos (todos os pêlos). Minhas pernas e coxas, minha barriga, meus meios e seios... molhados, inteiros.
Mas, ao mesmo tempo, uma sensação triste, de pleno vazio que se deu, de frio, de desaconchego, de pouco chamego, de breu... que deixou chover em mim.
Meu corpo virou rua deserta, no meio da noite, iluminada apenas pela luz da lua, lá longe, quase escura, quase nua, chovendo uma chuva fina e gelada. Uma estrada, caminho de pele e pêlos, cheio de curvas e entremeios, caminho de dentro... sem fim ou de fim obscuro, sem um pé de gente!
Assim que a porta bateu... não deveria ser assim, mas quem controlaria estas coisas? Impulsos nervosos de carne e osso... se contorcendo sob a sensação da chuva infinda que tombou em mim.
Ninguém chegou. Ninguém chegou, nem por um momento, a habitar aquelas terras inóspitas, às de dentro.
E eu mesma fiz questão de me lavar por dentro e depois fiz questão de me enxugar numa toalha velha, mas quente. Pijama, caneca e cama. Foi o que eu fiz. Dormir. Um sono leve e longo. E ao acordar, me vi limpa e pronta. Pronta para ir em frente... sempre.
Vestida de cor e de pés descalços, andei um pouco, distraída, com os olhos perdidos em coisa qualquer, coisa qualquer de cor (como eu), vi um sofá velho, longe... fui em sua direção e sentei. Fiquei a pensar... fiquei a pensar... fiquei a pensar. Às vezes, a gente sai junto, às vezes, a gente sai só.
Suspiro! Levanto! Tenho o que fazer!



"Eu não creio que alguém sinta-se do modo
como me sinto a seu respeito neste momento."

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