31.1.10

O ar que respiro


“Se todo alguém que ama
Ama pra ser correspondido
Se todo alguém que eu amo
É como amar a lua inacessível
É que eu não amo ninguém
Não amo ninguém
Eu não amo ninguém, parece incrível
Não amo ninguém
E é só amor que eu respiro”
Não amo ninguém - Cazuza.

É isto, eu lhe digo, é isto. Se todo alguém que me chama e vem , aos meus braços, aos suspiros e sem dizer nada eu já sinto aquele amor que exala de teu peito, mas que nunca foi destinado a mim. Se é em meus ouvidos que chegam as boas novas de devoção e carinho, então é para o meu coração que está destinado o vazio. Se é a mim, a doce e confiável amiga que todos chamam para declarar suas amáveis expectativas, então devo ser eu a prometida para a função de expectadora de todos os romance já existido.
Durante muito tempo eu substitui um amor por outro, seguidas vezes, muitas vezes, sem intervalos. Mas faz algum tempo que sinto uma leve brisa soprando dentro do meu corpo, sem obstáculos, sem mobília, vazio. O vento passa de leve e de leve leva consigo a história de antigos amores, a poeira de outras dores, o pó das cinzas carbonizadas de outras sensações insensatas. Meu corpo é bem arejado. Leve e doce. Doce expectadora de amores.
Hoje, de verdade, eu não amo ninguém! Não amo ninguém assim, de forma romântica. Hoje eu não amo ninguém. Não tenho que escolher entre o novo e o antigo, entre o rico e o pobre, não tenho que optar entre o certo/seguro e o louco/intenso. Hoje, eu não preciso escolher entre aquele que me ama e não tem nada que eu quero e aquele que não me quer e tem tudo que desejo. Hoje, eu não preciso optar pelo céu ou pela terra, pelo herói ou pelo vilão. Hoje eu só assisto. Porque não amo ninguém. Porque hoje, sou eu que vejo a arte de amar e não sou a heroína romântica da história.
Hoje, eu não amo ninguém. E todos os meus antigos amores, foram como a lua, amores dentro das impossibilidades. O belo e longínquo. Nunca pude tocar o meus amores. E tocar de diversas maneiras, nunca pude tocá-los por fora nem por dentro. Nunca pude tocá-los por dentro, nunca pude conhecer o que se passava por trás dos seus olhares, por dentro deles eu nunca soube o que havia. Nunca pude alcançar isso, nunca pude alcançar a lua. Nunca pude tocar um coração.
E hoje é um dia, é O dia da distância e do silêncio. É o dia que vejo de longe o amor e isso me torna uma expectadora mais consciente do que acontece. Sem hormônios nem sensações entorpecendo a sanidade e desfocando a realidade. Eu sou uma expectadora atenta, sou uma expectadoras que ver melhor só pelo fato de estar de fora. E eu vejo, eu vejo tudo, eu vejo as mãos dadas nas ruas, eu vejo os beijos longos e molhados e os curtos e graciosos, eu vejo os olhares dengosos, eu ouço os susurros e os suspiros. Eu vejo o reluzir de alianças (não os anéis, as alianças de verdade), eu vejo os abraços apressados antes do parti do ônibus, eu ouço o tom saudosos das vozes nos telefones. Eu vejo o invisível e ouço o silêncio. E acho lindo! Acho lindo porque não me causa dor.
É, não amo ninguém e é só o amor que eu respiro!
Porque amor não é o último suspiro, amor é ar que respiro eternamente, como expectadora que sou.


Um comentário:

Thalita Castello Branco Fontenele disse...

Que sorte a sua.

Tá lindo o novo layout.